Alex Morales – Escapou de Cuba num windsurf
 

Alex Morales viajou de Cuba até os USA… de windsurf. Esta é a historia de sua brava jornada através de um oceano e como se tornou um respeitado shaper. 

Imagens e texto por Timothy Venn em http://boards.mpora.com/features/alex-morales-escaping-cuba-on-a-windsurfer.html#fHIVk0IfQQXuA4wP.97.

Assim como muitos na população de Miami, a vida de Alex Morales iniciou em Cuba – mas sua jornada até a presente data dificilmente pode ser comparada a qualquer outra. Fascinado ao primeiro olhar, ainda como um menino de 8 anos, soube desde o início que havia sido picado pelo vírus do windsurf. Entretanto, sem oportunidades (e meios/equipos) de windsurf para crianças, teve que se contentar com pequenos barcos a vela e implorar por velejos em equipos de windsurf de locais.

 

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Foi então que Alex mostrou os primeiros sinais de sua capacidade de improvisação, começando a construir seus próprios equipamentos. “Inicie construindo pranchas de isopor com mastros e retrancas de bambu. Típico de crianças de terceiro mundo. Mas foi a única maneira de conseguir um equipamento para meu tamanho”. Finalmente, alguns anos após, ele foi reconhecido e aceito para equipamentos reais, e sua dedicação e persistência deram frutos quando ele venceu o campeonato Youth em 1987 e foi enfim selecionado para a equipe oficial olímpica de windsurf de Cuba em 1989.

Para muitos windsurfistas e cubanos em geral, esta poderia ser a realização de um sonho – ser pago (valor modesto) para velejar de windsurf. Entretanto, a vida de um velejador patrocinado pelo estado tinha pouco significado para Alex, que estava ciente da bolha artificial em que vivia – limitado a eventos oficiais com outros países comunistas. “Você pode estar em sua melhor forma física, mas se não competir internacionalmente, nunca poderá estar em seu melhor tecnicamente”. Revistas especializadas, TV e radio transbordavam de notícias de novos desenvolvimentos em equipamento e competições a nível norte-americano e européias. “Minha maior influencia à época foram as revistas, que faziam o windsurf parecer tão colorido e radical”.

 

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Alex Morales Windsurfing Cuban Olympic Team 1992

Alex sabia o que tinha de fazer – mas sair de Cuba espontaneamente não era opção, então partiu para a única opção disponível como um “Balsero”, fazendo a viagem de 90 milhas náuticas até a Florida e a liberdade numa das famosas balsas. Mesmo como um windsurfista experiente, pensava que fazer a travessia de windsurf seria extremamente exaustivo e perigoso, então tentou por duas vezes realizar a travessia em balsas artesanais motorizadas. Após o fracasso em ambas, ele finalmente se voltou para sua ultima e menos favoravel opção – de windsurf. “A opção de windsurf estava sempre no fundo de meus pensamentos, pois eu sabia que seria exaustiva – talvez além de meus limites”.

Para alcançar sucesso neste empreendimento de alto risco, ele sabia que deveria contar com alguma sorte e planejamento cuidadoso, então pelos 18 meses seguintes, estudou as condições da água e correntes oceânicas para decidir o melhor momento para a tentativa. 25 de abril de 1994 foi recebido com um consistente vento Leste, e correntes oceânicas e condições atmosféricas moderadas. Fazendo cálculos precisos da velocidade do vento e correntes, traçaram o percurso para alcançar a península da Florida precisamente no centro de Florida Keys – evitando assim o potencial fatal erro de sair demasiado para Leste em direção ao Atlantico ou a Oeste ao Golfo do Mexico. Falhar em alcançar terra no sul da Florida significaria pouca possibilidade de completar a empreitada antes da total exaustão e desidratação. Ele também selecionou cuidadosamente seu equipamento – a relativamente larga e com boa flutuação Bic Reggae, com bolina retrátil que o permitiria também orçar em ventos fracos. Como vela, utilizou uma customização a partir de uma 7.0, que com suas dimensões reduzidas, lhe deu muito torque mas ainda controlável nas rajadas.

Alex e dois companheiros saíram de Cuba evitando os barcos cubanos da guarda costeira, e velejaram durante 18 horas para alcançar as águas americanas, onde foram resgatados pelo barco do governador da Florida retornando de uma pescaria. Logo após a chegada, Alex recebeu uma ligação de Eugene (Eugenio Roman, que decidiu no ultimo minuto e fez a travessia com ele), convidando para velejar com ele em Miami no mesmo dia! “Eu disse “!@#$ you”, esta é a ultima coisa que pretendo fazer neste momento! Velejamos juntos alguns dias depois”.

“Velejar de windsurf em Mimai foi como chegar em casa” diz Alex, “Talvez porque eu tinha tantos amigos e família aqui – eu sentia como se Cuba fosse um país estrangeiro e Miami fosse minha residência de toda a vida”. Porém além de chegar à Florida, Alex não tinha outros planos específicos. Apenas ser livre para ele já era o suficiente naquele momento – mas isto não significa que ele se manteve alheio, e trabalhou duro para rapidamente assimilar a cultura americana, assim como se tornar um prestador de serviços elétricos licenciado.

O envolvimento de Alex no windsurf dos anos 90 foi mínimo. “A mídia e industria de windsurf americana focaram-se no velejo em ondas – algo que não podíamos fazer no sul da Florida, então não me envolvi com o esporte na época. Somente quando a partir de 2003 a Formula Windsurf ganhou força foi que voltei a me envolver com o assunto. Eu via profissionais como Micah Buzianis e Antoine Albeau em Formulas e senti que este tipo de equipamento permitia eventos com qualquer condição, dando ao esporte uma nova vida”.

 

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Competições locais recomeçaram e Alex reiniciou mais e mais com sua participação. “Tudo retornou quando me dei conta que com as Formula, os eventos não eram mais tão dependentes de vento – eu estava aceso, isto era empolgante – isto era o que eu fui feito para fazer . Então pensei, que tal fazer mais eventos… Tomei o bastão e iniciei na organização”. Rapidamente ele teve nomes como Micah Buzianis e Jimmy Diaz colocando o nome de Miami no mapa de competições. Conseguir patrocínio foi difícil – então Alex foi forçado a cobrir os custos antecipadamente por conta própria com a esperança de que a arrecadação fosse suficiente para cobrir seus custos. “Mesmo que tivesse que tirar dinheiro de meu próprio bolso e possivelmente perder, ainda assim eu o fazia – a coisa mais importante era que windsurf havia ressurgido e Miami estava no mapa”.

Alex alcançou o mundo criando websites, Windsurfingtour.com e Miamiwindsurfing.com. “Facebook e midias sociais tornaram-se a plataforma atual substituindo os websites. Hoje você tem 15 segundos para conquistar a atenção de alguém e a mídia social faz esta função”. Convencido de sua incapacidade para conquistar patrocinadores para seus eventos, Alex passou a dedicar-se a uma nova empreitada – tornar-se fabricante de pranchas e quilhas. Assim, nasceu a marca Tillo International (http://tillo-international.com). Alex criou uma linha de pranchas customizadas para Formula, Slalom e SUP – shapeadas a mão em sua própria oficina. Conquistando clientes da Florida e através de seu website, a marca de Alex está conquistando e construindo uma solida base de fans.

 

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Com muitos fabricantes fortes chorando o declinio do windsurf, Alex não está pronto para desistir da luta. Mesmo quando o windsurf havia sido deixado de lado dos jogos olímpicos e substituído pelo Kite, Alex foi um dos que batalharam para seu retorno com o resultado que todos conhecemos. “Tudo gira em participação, seja em competições internacionais ou locais. É difícil em nível local, pois velejadores amadores normalmente não se sentem seguros de sua habilidade em competir, mas seguir com este tipo de evento acontecendo mantém o incentivo para estes mesmos amadores seguir velejando e atualizando seu material, girando o mercado. Windsurf morre, quando as pessoas não põe seu tempo e recursos nele. A atenção da industria de esportes aquáticos voltou-se recentemente para o Kite e SUP – mas estes também irão declinar no futuro se o foco no longo termo não estiver presente”.

“Miami é uma das melhores cidades americanas para estes tipos de eventos na atualidade. Nosso evento de slalom contou com 53 competidores, incluindo Micah Buzanis, o que é fantástico – considerando que eventos PWA podem somente ser realizados com mais de 40 participantes”.

Seguindo com seu sucesso, Alex organizou seu ultimo evento de Slalom em 04/11/2014 em Virginia Key – Miami. Ele é também seguro em relação ao futuro. “Outro grande passo é a nova geração na classe Bic Techno que conta atualmente com a maior esquadra de todos os tempos (mais participantes que qualquer classe de vela atual), com mais de 400 participantes no ultimo Campeonato Mundial. Estes jovens irão no futuro migrar para a RSX e Slalom e carregar adiante a bandeira do windsurf. Novos desenvolvimentos em pranchas e rigs fizeram o esporte mais rápido e excitante, que pode também ser capturado com a tecnologia de baixo custo das GoPro e drones – então não existe razão para que novos adeptos não se voltem a este incrível esporte”.


Bons Ventos a todos,

 

Carlos Jürgens

 

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