Posição do Pé de Mastro
Seguindo a linha da matéria anterior, vem a dúvida se a posição do Pé de Mastro tem a ver com o planar mais cedo ou não. Consultei diversos sites e fóruns, mas não encontrei nada que desse respaldo a esta ideia.
A única certeza é que posição de pé de mastro é diretamente relacionada com controle, velocidade, conforto e capacidade de orça.
Vou a seguir transcrever alguns comentários encontrados em fóruns, que podem perfeitamente se encaixar em duvidas nossas. Não necessariamente representam a verdade única e inquestionável:
“Eu estava testando novas posições para o pé de mastro em minha Tabou Rocket 115 para mais velocidade. Quando posiciono o mesmo muito para trás, a prancha se torna muito suscetível ao spin-out (Quilha Stock Freeride 36cm com velas 6 e 7,5). Quando ocorre, pode terminar com a prancha atravessada até 45º em relação à direção do vento. Sinto a prancha mais rápida com o pé de mastro mais para trás, quase no limite do spin-out. Quando posiciono o pé de mastro mais para a frente, consigo colocar muita pressão no pé de trás. O bico da prancha baixa e sinto a prancha mais lenta. Será que realmente está mais lenta ou somente tenho esta impressão pelo fato de ter mais controle e conforto?”
Colega Braga, este relato vem exatamente de encontro a uma pergunta que você me fez em Floripa. Você comentou que estava utilizando uma quilha muito pequena (em função do baixio longo e com pouca profundidade) em frente a Windcenter. E estava saindo muito de spin-out. Comentou também que jogou o pé de mastro bem para a frente e aparentemente resolveu o problema.
Aí está a resposta Braga. Pé de mastro mais à frente transfere mais peso para a parte central da prancha. Deixa a prancha mais alinhada (chapada) com a linha da água, gera menos turbulência na rabeta e com tudo isto, permite colocar mais pressão no pé de trás sem o risco de spin-out. Portanto SIM. Posicionar o pé de mastro mais para a frente reduz o risco de spin-out.
“Li a algum tempo atrás, que para velejo em alta velocidade, deve-se mover o pé de mastro para trás até iniciar com spin-outs, então em seguida reposicioná-lo um pouco à frente. Com o pé de mastro à frente, a prancha desliza mais alinhada com a água (flatter), você terá uma superfície maior do fundo da prancha em contato com a água e portanto será mais lento. Com o pé de mastro para trás e menos prancha na água, existirá mais ar bom alcançando a quilha, em consequência ela irá ventilar mais cedo. É um compromisso entre quanto de pressão no pé de trás você consegue usar e quanto rápido você quer seguir. Ondulações tem da mesma maneira um efeito grande na performance. Quanto mais lisa a superfície da água, menos ar circulando por baixo da prancha.”
Devo dizer que discordo em grande parte da opinião acima. Em teoria, todo ar que circula por baixo da prancha é maléfico e pode acabar gerando o spin-out. É o fluxo laminar a contínuo de água pela quilha que faz o conjunto funcionar, e no caso de um spin-out, será o alinhamento da prancha (e quilha) com a direção de cruzeiro que irá fazer circular água, eliminando a bolha de ar e limpando a quilha para fazê-la funcionar novamente. E não “ar bom”.
Outra coisa, mesmo que eu jogue o pé de mastro totalmente à frente e tenha uma superfície maior do fundo em contato com a água, ainda assim esta superfície irá deslizar sobre a água e não afundar a rabeta e gerar turbulência. Lembrando que desde que não sacrifique a velocidade final, com uma quilha um pouco maior consigo gerar mais “lift” na prancha, diminuindo esta superfície de contato. Tente identificar ou imaginar o que você acabou de ler na figura acima.
“… Tente carregar mais peso e força no pé da frente, de maneira a absorver melhor as marolas e ondulações com seu pé de trás parcialmente dobrado. Eu sinto que se encarar ondulações com meu pé de trás carregado (com pressão), quase certo que entrarei em spin-out. Outra ideia é posicionar as alças de seu kit trapézio alguns cm para trás (= menos força no seu braço de trás). Recebi a algum tempo esta dica e para mim fez um mundo de diferença.”
“Quando diminuí o tamanho de minhas quilhas na minha prancha Free-style, segui o conselho de mover as alças do kit trapézio para trás. Desta maneira acabo não puxando demasiado meu braço de trás na hora de caçar a vela e em consequência acabo aplicando menos pressão no pé de trás.”
Vento Normal
Uma clara indicação de que a posição de seu pé de mastro está muito para trás, é o fato de não conseguir fechar a esteira (close the gap) quando arribando.
Reposicionando o pé de mastro 1 a 3 cm para a frente, torna-se mais fácil fechar a esteira. O espaço livre entre a esteira (parte inferior da vela) e o deck da prancha diminui. É fácil determinar se o pé de mastro está muito para trás, pelo bico da prancha. Se ele estiver muito alto e solto, é recomendável reposicionar o pé de mastro para fazê-lo baixar e melhorar o controle do conjunto.
Por outro lado, se o pé de mastro estiver muito à frente, pode ocorrer da esteira da vela tocar no deck da prancha. Neste caso, faça a regulagem inversa.
A posição ideal de velejo é aquela na qual você veleja e se sente completamente relaxado em sua prancha.
O que acontece se o pé de mastro for posicionado mais à frente?
– Melhora a capacidade de orça;
– Normalmente aumenta a velocidade. Para ventos mais fortes, esta posição do pé de mastro à frente melhora o controle, resultando nestas maiores velocidades.
– Facilitará fechar a esteira. E este é um dos requisitos para ser rápido.
Vento Forte
Se voce estiver sobre-velado numa prancha de free-ride e vela 6.0, mova o pé de mastro 1 a 3 cm para trás. A prancha irá se acalmar e você sentirá muito mais controle sobre o conjunto.
O que acontece se o pé de mastro for posicionado mais para trás?
Geralmente uma maior dificuldade para iniciar a planar (rabeta com mais peso e afundada na água), e dificuldade para orçar. Porém como sempre, não existe regra sem exceção. Em ventos muito fortes, o pé de mastro deveria estar 1-2 cm para trás do normal, de maneira que o bico da prancha esteja livre. Com isto melhora a posição de planeio e a capacidade para encarar as ondulações resultantes do vento mais forte. Mas ainda assim, dependerá do estilo pessoal de cada velejador. Orçar pode se tornar mais complicado, porém é necessário encontrar o melhor ponto de compromisso entre o que se quer e o que se ganha.
Quando entendemos que nosso rig está perfeitamente ajustado? Não é quando somos os mais rápidos e ultrapassamos todos os nossos amigos na água. Nem quando podemos tomar uma xícara de café enquanto velejamos com apenas uma mão. É quando somente nossa quilha está na água, sem que a prancha decole. Quando o bico da prancha não estiver furando as ondulações, mas sim somente tocando de leve. Este é o momento em que estamos realmente bem ajustados. Quando a pressão do vento pode ser capturada pela vela e transferida pelo trapézio, esteira fechada, pressão nos pés, tudo integrado à prancha e agindo sobre a quilha.
A pressão que você coloca na quilha, deve ser suficiente para garantir que o bico da prancha se eleve o suficiente para não tocar nas ondas. A prancha não necessita decolar pela pressão na quilha, a quilha não deve entrar em spin-out, nós devemos estar em condições de controlar a pressão que temos em nossa vela, nosso pé dianteiro não deve sair das alças e a força que utilizamos para puxar a vela deve ser confortável o suficiente de maneira a poder seguir por alguns quilômetros na mesma direção. Quando encontramos este equilíbrio do conjunto, com total controle enquanto deslizamos sobre a superfície da água, significa que estamos extraindo o máximo em performance de nosso equipamento.
Como regra geral, procure sempre garantir 60% de pressão no pé de trás e 40% no da frente. E esta não é uma questão de fazer mais força com um pé do que com o outro. É uma resultante obtida do perfeito ajuste de todo o equipamento.
Bons ventos a todos,
Carlos Jürgens
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