Eis um assunto extenso e que daria quase pra escrever um livro de tanto material que existe na internet. Vou tentar resumir e colocar de forma que todos possam entender.

Existem na atualidade 4 tipos principais de encaixe de quilha nas pranchas de windsurf: Tuttle Box, Power Box, Trim Box e Chinook Slot.

A Tuttle Box (com a variação Deep Tuttle ) é a quilha de fixação mais robusta entre os 4 tipos e por esta razão é comumente usada para as novas pranchas de slalom e em praticamente todas as Starboard. É fixa através de 02 parafusos M6 pelo topo. A variação Deep Tuttle é usada principalmente para quilhas maiores, como o caso das pranchas de Fórmula. A quilha Tuttle pode ser usada no encaixe da Deep Tuttle, pois o encaixe se dá pelas faces laterais (inclinadas). O contrário não pode ser feito.

A Power Box é uma quilha bastante apropriada para medidas entre 28-48cm. É fixa por apenas 01 parafuso M6 pelo topo e é bastante usada nas pranchas de freeride da JP, Mistral, F2, RRD, etc… Todos estes fabricantes quando partem para altas forças aplicadas nas quilhas, adotam a Tuttle ou Deep Tuttle.

A Trim Box (também chamada de Power Trim Box) é a quilha usada pelas velhas Bic e Fanatic. Possui alguns calços deslizantes num trilho inferior e a outra extremidade da quilha é fixa por 01 parafuso M6, que permitem mudar a posição da quilha mais para a frente e para trás. É uma fixação bastante eficiente e rígida porém perde para a Tuttle Box.

Chinook Slot – conhecido como “A” Box quando a profundidade do encaixe for de aprox. 25mm (1”) e “E” Box (Europeu) quando a profundidade do encaixe for de 30mm (aprox. 1.25”). Este tipo de encaixe é bastante usado em pranchas de wave e freestyle onde as quilhas não ultrapassam 30cm de comprimento.

Algumas características das quilhas:

A primeira regra para a seleção da quilha é: Vela grande = Quilha grande. Porém este é só o ponto de partida. O estilo e tamanho da prancha, condições da água, tipo de vela e regulagem dela, habilidade e estilo do velejador, bem como o tipo de velejo que se pretende conduzir irão determinar a quilha a ser utilizada. Quanto mais afastada for a posição das alças em relação ao centerline da prancha, maior a quilha que pode ser usada nela.

O formato da quilha apresenta ainda outras variáveis: Qual a relação entre altura x largura e o shape dela – Reto ou curvo para trás? Uma quilha reta é mais rápida na orça e plana mais cedo, enquanto uma quilha curva permite grande controle em velocidade e excelente manobrabilidade. Quilhas estreitas são rápidas porém mais críticas (spin out = cavitação), enquanto as quilhas mais largas permitem planeio em velocidades mais baixas.

Em pranchas de slalom, uma boa relação de quilha (dividir comprimento x largura) para a grande maioria de condições de velejo é em torno de 4 a 5. Velejadores de wave não precisam de tanta velocidade. Para eles importa um bom range de utilização e controle. Uma boa relação para este estilo de velejo é próximo a 2,5. No freeride a relação sobe para 3 a 4.

Quilhas de perfil Weed (pouco utilizadas/conhecidas em nossas região) são bastante inclinadas para trás, para permitir velejar em locais com muitas algas e resíduos sem que eles tranquem na quilha. Este tipo de perfil perde em velocidade e capacidade de orça.

Existem adaptadores disponíveis no mercado mas seu uso não é muito recomendado pois compromete a resistência da quilha e sua fixação à prancha.

Materiais:

Quilhas podem ser feitas de materiais plásticos (fraco e mole), fibra de vidro (pesado), G10 (mais utilizado, fácil de trabalhar mas também pesado), carbono (muito rígido, quebradiço, caro e difícil de trabalhar) além de outros materiais específicos.

A flexibilidade da quilha também é um fator de grande importância. Para entender melhor:

Uma quilha rígida é como um carro de corrida com sua suspensão bastante dura. Excelente em altas velocidades, mas requer uma superfície lisa e sem ondulações para poder extrair o máximo dela.

Já uma quilha flexível pode ser comparada a um 4×4. Limitado em velocidade, mas sua suspensão permite passar por diferentes irregularidades (ondas, marolas, etc…) sem perder tração e com excelente manobrabilidade.

Cuidados:

É muito importante manter sua quilha em perfeito estado de conservação. Um pequeno risco na sua superfície pode causar arrasto e o temido spin out. Use lixa 400 a 600 para remover pequenos tecos. A aresta frontal deve ser ligeiramente arredondada enquanto a traseira deve ser fina mas sem chegar ao ponto de perigosamente afiada. Nunca passe parafina ou cera na quilha pois sua superfície lisa pode também ocasionar o spin out.

Generalidades:

Algumas vezes é mais rápido trocar uma quilha do que uma vela e com isto conseguir o mesmo efeito na capacidade de planeio.

Para velejador de slalom, 4 a 6cm entre uma quilha e outra é uma diferença aceitável. No wave, 1 a 2cm podem fazer uma grande diferença.

Quando sua quilha é muito grande para a condição de velejo, ela irá gerar muito Lift (elevação na água) dificultando o controle da prancha.

Quando sua quilha é muito pequena, você terá dificuldades para planar e para orçar.

O comprimento da quilha é medido verticalmente de sua base até a ponta da mesma. A base não faz parte do comprimento. A largura da quilha é medida em sua parte mais larga, normalmente próxima à sua base.

Curiosidades:

Minha prancha atual é uma JP Freestyle/Wave de 115 litros. Prancha que possui uma quilha original de 30cm. Eu uso esta mesma prancha numa condição de slalom, com vela 8.0 (a maior recomendada para ela seria 7.4) e uma quilha de 42cm modelo LiquidPro da Maui Fins. O resultado é que consigo planar bastante cedo e ainda com uma razoável velocidade final. Quando aperta, reduzo para uma 6.6 ou 7.0 e a quilha para uma de 35cm. A quilha original de 30cm, só uso no slalom quando a profundidade da água não me permite quilha maior, mas estes detalhes dizem respeito diretamente a característica de velejo e velejador – Slalom com trapézio tipo cadeirinha. O trapézio de cintura já daria um outro resultado.

Tenho também uma prancha Bic Veloce 298 (está a venda – alguém quer comprar?) que estava com a quilha presa e tive um pouco de trabalho para soltá-la. Fiz o sistema dos bloquinhos deslizantes voltar a funcionar e aí veio a duvida: O que acontece se a quilha for posicionada mais para a frente ou mais pra atrás? A resposta veio por email da própria Bic e seu pessoal de suporte:

– Quilha para a frente = mais controle e menos velocidade.

– Quilha para trás = mais velocidade e prancha mais solta.

Abraço e Bons Ventos,

Carlos Jürgens

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