Praticamente todo windsurfista que se preza já experimentou a sensação, e quem ainda não, com certeza irá experimentar.
Quando ocorre, a sensação que o velejador passa a ter é a de que a quilha desapareceu debaixo da prancha e ela começa a “derrapar”, andando em um ângulo de 45º em relação ao seu deslocamento. Caso o spin out ocorra em velocidade, um grande leque de água se levanta em sotavento (lado contrario de onde vem o vento).
A função principal da quilha é quebrar o arrasto lateral provocado pela tração da vela, fazendo sobrar apenas a força que empurra a prancha para a frente. Quando a quilha corta a água, pelo seu princípio de funcionamento é gerada uma zona de baixa pressão na face de barlavento (lado de onde vem o vento). Esta zona é indispensável pro funcionamento, porém é exatamente aí que o spin out tem origem: bolhas de ar que vem da frente da prancha são aprisionadas nesta região e eventuais bolhas em excesso ou ar “aspirado” da rabeta fazem a quilha perder a sustentação e ocorre o fenômeno, que em algumas literaturas é também encontrado como “cavitação” ou “aeração da quilha”.
Por que ocorre o spin out?
Basicamente por culpa do velejador. Ou ele está com material mal ajustado, mal dimensionado ou então falta habilidade mesmo.
A quilha muito pequena para o tamanho de vela que está sendo usada é uma das causas mais comuns, e neste caso cabe ao velejador providenciar a troca da mesma. Convenhamos, se ele continua com a quilha pequena é sua a culpa pelo problema, não? Se não tiver uma quilha maior, empresta. Veja se o problema se resolve e em seguida trate de comprar uma.
Outra causa comum é quando você salta ou sai um pouco da água em função das ondulações normais, se colocar muita pressão no pé de trás antes do tempo e que a quilha esteja completamente envolta em água, irá ocorrer o spin out.
Quando estiver velejando em águas muito batidas e onduladas, é necessário “absorver” estas irregularidades com suas pernas, para garantir o constante contato da prancha na água.
Quando saltar, procure sempre retardar um pouco o momento de botar pressão novamente na quilha. O fenômeno ocorre durante o salto principalmente quando você estiver orçando.
Como corrigir o spin out?
Para corrigir o spin out é necessário fazer a água voltar a fluir de forma laminar pela quilha, eliminando o ar aprisionado na zona de baixa pressão, e é elementar que enquanto a prancha estiver derrapando a 45º em relação ao sentido de deslocamento isto não ocorrerá. Caso você tenha tido a felicidade de não tomar um “pacote”, seguem algumas formas de sair do spin out:
1) Cuide bem de suas quilhas. Mantenha elas em bom estado de conservação, eliminando riscos e pequenos tecos com o uso de uma lixa fina, principalmente na aresta traseira. Quando não estiverem sendo usadas, mantenha elas dentro de suas proteções. Se não tiver, faça uma.
2) Caso você entre em spin out antes de começar a planar, mova seu peso para o centro da prancha retirando a pressão da quilha.
3) Caso ocorra durante o planeio, tente retirar todo o peso do pé de trás. Pressão excessiva no pé traseiro é uma das causas do spin out e em muitos casos esta simples ação já irá eliminar o problema.
4) Uma outra forma é retirar o peso do pé traseiro, transferindo o peso para o rig. Quando sentir que está firme na posição, ainda com os pés nas alças, dar um puxão no pé de trás enquanto simultaneamente empurre o pé dianteiro, fazendo a prancha dar uma pequena arribada. Esta ação irá recolocar a prancha (que estava a 45° em relação ao deslocamento) no sentido correto, alinhando quilha e fluxo da água em volta dela e eliminando a bolha de ar.
5) Uma solução para velejadores de nível avançado é utilizar uma pequena ondulação para saltar, e enquanto estiver no ar, realizar a correção na trajetória.
6) Caso nada funcione, saia realmente das alças e volte ao centro da prancha para em seguida retomar o planeio.
7) Caso os spin out sejam sucessivos e você não tenha como mudar a quilha, uma alternativa é baixar a altura da retranca. Esta medida irá transferir mais peso do velejador para a rabeta da prancha, melhorando o contato (menos Lift) da prancha na água e ajudando a evitar o problema. Porém esta é uma ajuda que não muda praticamente nada quando sua quilha estiver muito pequena. Serve sim quando você estiver com muita quilha.
Se no velejo você estiver controlando bem sua vela nas condições de vento presentes, mas você sai muito de spin out, ou você não consegue orçar tanto quanto gostaria, você precisa de mais quilha. Caso a prancha esteja muito solta ou nervosa sob seus pés, tendendo a decolar e deixando você sem controle, você precisa de menos quilha (e provavelmente de menos prancha também).
Quer ver um vídeo interessante? Acesse o link abaixo e veja o quanto flete uma quilha de Fórmula Windsurf (mais fácil de observar em função das dimensões).
http://www.youtube.com/watch?v=NLJoKjn8Ngw
Para finalizar, segue um conceito relacionado a todo este assunto de quilhas. Quem me disse a frase foi o Rolfinho e ele a ouviu do Testa de Floripa: “Voce não precisa ter duas ou três pranchas. Mais importante é ter duas ou três quilhas”.
Abraço a todos e Bons Ventos,
Carlos Jürgens
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